Pesquisadores australianos criam IA que traduz ondas cerebrais em palavras faladas. Tecnologia pode transformar a comunicação de pacientes com deficiências.
IA converte ondas cerebrais em fala: avanço pode revolucionar a comunicação
Cientistas da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS) desenvolveram um modelo de inteligência artificial capaz de transformar ondas cerebrais em palavras e frases faladas, utilizando um boné EEG vestível. O projeto representa um marco inovador na interface cérebro-máquina e pode revolucionar a forma como nos comunicamos, especialmente para pessoas com deficiências motoras ou de fala.
O modelo foi criado pelos pesquisadores Daniel Leong, Charles Zhou e Chin-Teng Lin, utilizando um sistema de aprendizado profundo (deep learning) treinado para detectar e interpretar sinais neurais com alta precisão. Atualmente, o sistema possui um vocabulário limitado, mas alcançou uma taxa de acerto de aproximadamente 75%, algo inédito até o momento neste tipo de tecnologia.
“Acreditamos que com o aumento da base de dados de treinamento e a melhoria da análise dos sinais cerebrais, podemos atingir uma precisão superior a 90%”, afirmou Chin-Teng Lin, em entrevista ao Sydney Morning Herald.
Como funciona o sistema?
O boné de EEG (eletroencefalograma) capta os sinais elétricos emitidos pelo cérebro. Esses sinais são processados por um algoritmo de inteligência artificial que reconhece padrões específicos de atividade cerebral correspondentes a palavras ou frases. O sistema então converte esses padrões em linguagem falada.
Esse tipo de interface cérebro-computador é conhecida como BCI (Brain-Computer Interface), e tem ganhado destaque na neurotecnologia moderna, abrindo portas para a comunicação não-verbal em tempo real.
Aplicações práticas e impacto social
O potencial dessa tecnologia vai muito além do laboratório. Pessoas com esclerose lateral amiotrófica (ELA), lesões na medula espinhal, paralisia cerebral ou síndrome do encarceramento poderão se beneficiar enormemente dessa inovação.
Além do campo médico, esse tipo de IA também pode ser útil em ambientes de alta complexidade, como o controle de drones militares, robôs cirúrgicos e até a escrita de textos por meio do pensamento.
O especialista em bioeletrônica, Dr. Mohit Shivdasani, destacou que a IA já consegue identificar padrões neurais que antes eram invisíveis à análise humana tradicional. “Estamos entrando em uma era onde será possível enviar mensagens apenas pensando nelas”, comentou.
Desafios éticos e próximos passos
Apesar do entusiasmo, o avanço também levanta questões éticas e de privacidade. Como proteger os pensamentos dos usuários? E se essa tecnologia for usada sem consentimento?
Segundo os pesquisadores, o foco atual está em aprimorar a precisão e garantir que a tecnologia funcione em tempo real com diferentes tipos de cérebros e sotaques. Eles pretendem expandir o vocabulário da IA e torná-la acessível em ambientes hospitalares e residenciais.
IA e o futuro da mente conectada
Esse projeto reforça a tendência de integração cada vez mais profunda entre mente e máquina. Grandes empresas como Neuralink, de Elon Musk, também têm investido pesado nesse setor, com foco em implantes cerebrais invasivos. A solução australiana se destaca justamente por ser não invasiva, usando apenas um boné EEG.
A expectativa é que, em poucos anos, seja possível redigir mensagens, controlar dispositivos e até interagir socialmente apenas com sinais cerebrais — uma verdadeira revolução silenciosa na forma como nos comunicamos.